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Recordistas históricos de corujas, João Daniel Tikhomiroff e Washington Olivetto relembram curiosidades da premiação e analisam mudanças nos mercados de publicidade e produção nos últimos 40 anos

Renato Rogenski
3 de dezembro de 2019 - 18h53

Em 2001, Olivetto recebeu o Caboré de Agência pela W/Brasil (Crédito: acervo M&M)

Ao longo de toda a história do prêmio Caboré, apenas dois profissionais conseguiram a façanha de conquistar a coruja em cinco oportunidades: Washington Olivetto, hoje consultor criativo da McCann Europa, e João Daniel Tikhomiroff, fundador e sócio-diretor da produtora Mixer. Seja por meio do reconhecimento do mercado aos atributos técnicos de criativo e diretor de filmes ou pela atuação de ambos como empresários, o fato é que os troféus ajudaram a solidificar suas trajetórias como referências para a indústria de comunicação. Enquanto Olivetto conquistou três corujas de Profissional de Criação (1980, 1984 e 1986) e duas de Empresário ou Dirigente da Indústria (1988 e 1990), Tikhomiroff tem um troféu de Empresário ou Dirigente da Indústria (2005) e quatro de Profissional de Produção (1987, 1988, 1989 e 1999), categoria extinta em 2001.

Primeiro prêmio individual
Quando ganhou seu primeiro Caboré, em 1980, ano de lançamento do prêmio, Olivetto já não podia mais ser chamado de “Golden boy” da publicidade brasileira, título que ganhou por sua ascensão precoce na década de 1970, incluindo a conquista de um Leão de Bronze em Cannes com 19 anos. Antes do Caboré, o publicitário já colecionava em sua estante uma série de troféus, praticamente todos eles ao lado de “seu dupla” Francesc Petit. O Caboré foi, no entanto, o que o próprio publicitário considera como o primeiro grande prêmio individual de sua jornada. Todas as corujas de Olivetto, de 1980 a 1990, pontuam um período que ele classifica como os “anos de maior excelência criativa da publicidade mundial”. Além de seus troféus em carreira solo, ele também recebeu quatro corujas na categoria de Agência, duas com a W/GGK (1987 e 1988) e outras duas como W/Brasil (1989 e 2001). O ano que ficou mais marcado na memória do publicitário foi o de 2001, por dois motivos distintos. “Naquele ano, a W/Brasil ganhou novamente o Caboré de Agência, e minha mulher, Patrícia Viotti, que era sócia da Conspiração Filmes, ganhou o Caboré de Profissional de Produção, feito até então inédito para um casal. Fora isso, sete dias depois do prêmio, no dia 11 de dezembro de 2001, eu sofri um violento sequestro que durou 53 dias. Obviamente a somatória desses fatos tornam aquele Caboré inesquecível”, explica. Como curiosidade histórica da premiação promovida por Meio & Mensagem, Olivetto lembra das cerimônias realizadas na Hípica Paulista. “Nelas começaram as torcidas organizadas. A primeira grande torcida organizada foi feita para a Camila Franco, na época brilhante redatora da W/GGK que depois virou W/Brasil. Camila merecidamente ganhou o Caboré de Profissional de Criação daquele ano (1991)”, ressalta. Na opinião do publicitário, mais do que massagear o ego dos vencedores, a grande função das premiações é criar e documentar a memória da atividade. Ao fazer o balanço das mudanças que aconteceram na publicidade desde o primeiro Caboré, em 1980, Olivetto elenca como pontos positivos o desenvolvimento tecnológico, que facilitou e melhorou a produção, e o aumento significativo nas possibilidades de acesso à informação em geral, e a dados e sistemas de mensuração de resultados em particular. Por outro lado, em sua visão, a publicidade piorou criativamente e como negócio no mundo inteiro.

Momento tocante
Para João Daniel Tikhomiroff, a primeira coruja veio em 1987 e teve um sabor especial, segundo ele mesmo descreve. “Foi tocante e bonito, uma demonstração de reconhecimento do mercado a todo o trabalho, a paixão e ao esforço que dediquei minha carreira”. Nos dois anos seguintes, 1988 e 1989, Tikhomiroff conquistou novamente o troféu na mesma categoria de Profissional de Produção. E, após um hiato de quase dez anos, voltou a vencer em 1999. O quinto Caboré, em 2005, coroou sua trajetória como Empresário e Dirigente da Indústria. Em sua concepção, ser premiado em épocas tão distintas é uma demonstração da consistência e solidez de sua carreira, além da capacidade de reinvenção ao longo do tempo. Maior exemplo disso, e também reflexo de sua capacidade de adaptação, ele acredita, foi o Caboré de 2005, o primeiro após a mudança de nome de sua produtora, que em 2003 deixou de ser Jodaf para se tornar Mixer. “A novidade surpreendeu o mercado na época, porque era um nome forte e consolidado. Ainda assim, já como um alinhamento para os novos tempos, eu sentia uma necessidade de promover esse reposicionamento, e o nome Mixer já conceituava a empresa para uma nova postura, que, como o próprio nome diz, tem capacidade de misturar diferentes disciplinas e fazer múltiplas entregas”, explica.

Assim como Olivetto, Tikhomiroff soma às cinco corujas individuais, conquistadas em categorias de profissionais, outras quatro ganhas pela sua produtora: três conquistadas como Jodaf e uma já como Mixer. Em sua trajetória individual de prêmios, Tikhomiroff fez questão de ressaltar a honra que sente ao ser o recordista ao lado de Olivetto, profissional que não apenas admira como considera como um dos maiores parceiros de sua carreira. Juntos, como conta, estabeleceram uma dupla de muitos anos e incontáveis campanhas. Ao citar o seu momento mais marcante no Caboré, Tikhomiroff parafraseia a mais famosa campanha criada por Olivetto: “A primeira coruja ninguém esquece”. Em 1987, o profissional subiu no palco ao lado de seus pais, que eram seus sócios na produtora. “Os dois ficaram muito emocionados. Fiz questão de dar a coruja para eles no palco e nunca vou esquecer da emoção em suas expressões”, lembra. Outra curiosidade, resgata, aconteceu quando concorreu como Empresário ou Dirigente da Indústria, em 2005, com dois nomes que chamou de “pesos pesados do mercado”: Johnny Saad (Band) e Maurizio Mauro (Editora Abril). Tão certo de sua derrota, Tikhomiroff começou a aplaudir quando a foto de Johnny Saad apareceu no telão da cerimônia de premiação. Quando fez o gestual para parabenizar seu concorrente, percebeu que todos os finalistas apareciam na imagem, incluindo ele, que ainda estava na disputa. Minutos depois, para a sua surpresa, foi chamado ao palco para receber a coruja. Por fim, sobre as mudanças do mercado desde o seu primeiro Caboré, o fundador da Mixer destaca a infinidade de recursos tecnológicos e as mais variadas formas de se comunicar nos dias de hoje, o que torna o mercado de produção algo ainda mais rico e diverso, como em nenhum outro momento. Em sua avaliação, apenas uma coisa não mudou: “O que move o mercado ainda é a grande ideia, pode ser algo na tela do celular, um branded entertainment ou o tradicional comercial de 30 segundos na televisão”.

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